Quando o Património é uma Realidade Aumentada

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Um dos principais desafios que os espaços culturais têm hoje passa por se valorizarem perante os seus públicos. Cada vez mais há substitutos para a visita a monumentos ou a património e a noção de que a tecnologia tem a resposta a todas as questões leva invariavelmente a que se reduza a oportunidade e a curiosidade de explorar os espaços reais. Quando o próprio património é uma Realidade Aumentada junta-se o últil ao agradável e tudo muda de figura.

A Realidade Aumentada, como o nome implica, adiciona algo ao mundo físico como o percebemos. É uma tecnologia que utiliza a câmara de um smartphone, de um tablet ou de smartglasses para sobrepor objetos ou personagens digitais aos espaços físicos. Por isso mesmo, é uma tecnologia que possibilita revalorizar todas as peças de património, tornando-as mais interativas e capazes de providenciar experiências únicas aos visitantes.

Genericamente, uma app de Realidade Aumentada responde a estímulos do ambiente onde ela se encontra e providencia experiências. Pode ser algo tão simples como uma musica – à entrada de um salão de baile num palácio, um quarteto de cordas começa a tocar. A experiência também pode ser mais complexa – ao chegar a uma igreja medieval, encontra-a fechada, mas utilizando Realidade Aumentada e apontando o seu dispositivo à parede, pode visualizar o seu interior numa janela em Raio-X.

Esta tecnologia ajuda a valorizar dois aspetos extremamente importantes na construção da mensagem que o património tenta veicular:

  • A possibilidade de literalmente ver como os nossos antepassados utilizavam aquele objeto, aquele espaço, aquele edifício – a forma como eles se relacionavam com o seu quotidiano através destes elementos é aquilo a que cada visitante se vai ligar e que permite uma exploração muito mais íntima (porque visual) de cada peça de património da nossa consciência coletiva. O valor do património não é intrínseco ao objeto ou espaço em si, mas sim ao significado do que realizamos ou realizámos com ele. Essa valorização do que é património permite-nos criar uma relação com os objetos históricos duma forma muito visual, muito imediata;
  • Transformar o espaço de forma a torna-lo mais facilmente interpretável por cada visitante é um dos objetivos estruturais da Realidade Aumentada no Turismo Patrimonial. Contudo, devemos ter sempre em conta que existem diversos públicos-alvo com diferentes objetivos na sua visita ao património. Utilizar Realidade aumentada para personalizar cada experiência com uma peça de património, dando experiências diferentes a estudantes, investigadores ou especialistas, é igualmente uma forma de valorizar digitalmente um espaço de cultura.

Ao contrário da Realidade Virtual que substitui a Realidade Física, a Realidade Aumentada cria a oportunidade de partirmos do físico para o digital e regressar ao físico.

COMO FUNCIONA A REALIDADE AUMENTADA?

Existem várias formas de despertar experiências de realidade aumentada num contexto. Pode ser através da referência geográfica de um espaço que, quando reconhecida pelo GPS do seu telemóvel, desperta uma experiência naquele local – som, ecrã, mensagens, vídeos, etc.

Muito embora esteja dependente de um serviço que nem sempre está ativo (o que pode ser colmatado com um aviso no inicio do percurso), este método é ideal para experiências que não necessitam de ser colocadas minuciosamente no espaço. É o ideal para um guia hologramático outdoor, que vai aparecendo e desaparecendo, consoante avançamos adentro dum parque arqueológico. Ou para estímulos inesperados, como o ribombar de canhões e o tocar de trompetas ao percorrermos as ameias de um castelo. Em todos estes casos, o património é uma realidade aumentada que acrescenta de facto valor.

Contudo, as experiências criadas a partir da câmara dos dispositivos móveis encerram um potencial maior. Os smartphones e tablets atuais já possuem câmaras que podem reconhecer imagens complexas e mostrar conteúdos digitais com profundidade – ou seja, que nos permitem aproximar e afastar dos objetos como se eles se encontrassem ali mesmo. E ao falar de objetos, posso tanto falar de menires da idade do bronze como de termas romanas onde posso novamente caminhar e ver os detalhes.

O QUE OFERECE A REALIDADE AUMENTADA AO TURISMO? COMO É QUE O PATRIMÓNIO É UMA REALIDADE AUMENTADA?

Essencialmente, a Realidade Aumentada apresenta uma grande complementaridade com o trabalho de valorização de património. Isto porque todos os profissionais de restauração, museólogos, promotores turisticos estão habituados a trabalhar com locais e monumentos e peças ricos em detalhe e que despertam a imaginação. Os visitantes exploram os ambientes, visualizam e interagem com objetos e com espaços onde são desafiados a pensar “Como viviam aqui? Como usariam estes objetos? Como estaria mobilado este local?”. A Realidade Aumentada adiciona informação multimédia, que tem logo o condão de retirar placas que poluem o percurso no monumento e que nunca dirão tudo o que é necessário para cada visitante entender o valor daquele local.

Para além disso, a RA ajuda a melhorar o entendimento não apenas dos locais, não apenas de como estes eram vividos anteriormente, mas igualmente da história das pessoas que os viveram. Isto acelera a criação de uma relação com o espaço e inclusivamente ajuda os próprios funcionários do espaço ou mesmo os guias profissionais a partilharem a afetividade que eles têm com o espaço. Claro, a tecnologia de Realidade Aumentada não substitui o que existe e não necessita de representar algo de muito complicado ou um investimento muito elevado.

Por exemplo, o Museu Francisco Tavares Proença Junior em Castelo Branco explora a Realidade Aumentada como uma fórmula para a reconstrução de peças e valorização dos vestígios arqueológicos que possui no seu acervo:

  • Os caracteres gravados na pedra de um menir tornam-se muito mais legíveis porque se destacam, ao brilhar;
  • Apresentar como uma fíbula encaixava no ombro de um oficial romano e impedia a sua capa de cair ao solo;
  • Perceber como era toda uma peça de cerâmica, a partir de um pedaço menor.
  • Simular o ladrilho romano no pavimento de uma sala, a partir de uma amostra recolhida por arqueólogos;
  • No mapa da região que está patente na exposição, é fácil visualizar os vários monumentos que podemos visitar, associados às peças expostas.

Através de uma aplicação de Realidade Aumentada, que o visitante é convidado a instalar logo à entrada, é possível aceder a todas estas experiências e a outras, a par de mais informação sobre os eventos e novidades do museu. Um caso típico de como o património é uma Realidade Aumentada!

Mas esta aplicação pode fornecer experiências só por si. Jogos que evocam o ambiente e personagens envolvidos num espaço podem atrair visitantes a áreas menos visitadas do museu ou destacar os detalhes que são muitas vezes ignorados pelas visitas – valorizando assim ainda mais o património que estamos a visitar. Esta aplicação pode funcionar inclusivamente for a do espaço cultural – o que permite criar um canal de comunicação com potenciais interessados em futuros eventos, ofertas especiais ou outros convites.

A Realidade pode inclusivamente ser usada para evocar visões de espaços passados, que já não existem. Na app Rewind Cities Lisbon, é possível há cerca de três anos visualizer como mais de 80 pontos em Lisboa eram, com recurso à sobreposição de fotos do Arquivo Municipal da cidade. Ao apresentar como a Praça da Figueira era antes de retirarem o mercado – ou mesmo como a Praça do Comércio era antes do terramoto – a Realidade Aumentada aproxima as pessoas de um património invisível, que só o conhecimento da História gera na consciência individual de cada um de nós.

A Realidade Aumentada complementa, potencia e, bom, aumenta o trabalho dos profissionais de património nos locais onde a cultura acontece. Sempre que a tecnologia é um meio e não o fim da experiência, cada visitante também aumenta.

Saiba mais sobre as nossas soluções de Realidade Aumentada no Turismo e Património e desafie-nos! Vai ver que quando o património é uma Realidade Aumentada os resultados são surpreendentes.